Present Time and Mythical Time in Carlos Drummond de Andrade
Cristiano Perius
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Maringa, Brazil
PERIUS, Cristiano. “Tempo presente e tempo mítico em Carlos Drummond de Andrade”. Viso: Cadernos de estética aplicada, v. 18, n° 35 (jul-dec/2024), p. 87-109.
Accepted: 07/16/2024 · Published: 12/31/2024
Tempo presente e tempo mítico em Carlos Drummond de Andrade

A poesia de Carlos Drummond de Andrade apresenta momentos de aceitação e fuga do tempo presente. A rosa do povo, de 1945, é marcada pelo realismo social e utópico que acredita na comunicação poética e na transformação do mundo. Este lirismo social, no entanto, é contrariado pela coletânea seguinte, Claro enigma, de 1951, caracterizado pela recusa do tempo presente e edição do tempo mítico. O otimismo do poeta que abraça o povo e o convida a participar de ideais comunitários, na coletânea de 1945, contrasta com o pessimismo crítico da coletânea de 1951, marcado pelo hermetismo e recuo à torre de marfim. Visto desta forma, o lirismo indica um movimento de prejuízo e enfraquecimento em relação a si. Nossa análise visa retomar a avaliação – largamente divulgada pela crítica – de que o Claro enigma não representa dano ou prejuízo em relação A rosa do povo, mas introduz novos elementos estéticos a partir dos quais é possível retirar conseqüências filosóficas acerca do debate sobre o engajamento literário. O Claro enigma não representa retrocesso em relação à obra anterior, mas um novo tipo de engajamento fundado sobre o olhar humanizado, concentrado sobre a condição humana e apenas indiretamente ligado aos fenômenos sociais e políticos.

Palavras-chave:
Drummond; Merleau-Ponty; tempo mítico; engajamento
Present Time and Mythical Time in Carlos Drummond de Andrade

The poetry of Carlos Drummond de Andrade presents moments of acceptance and escape from the present time. A rosa do povo, from 1945, is marked by social and utopian realism that believes in poetic communication and the transformation of the world. This social lyricism, however, is contradicted by the following collection of poems, Claro enigma, from 1951, characterized by the refusal of the present time and the edition of mythical time. The optimism of the poet who embraces the people and invites them to participate in community ideals, in the 1945 collection, contrasts with the critical pessimism of the 1951 collection, marked by hermeticism and retreat into the ivory tower. Seen in this way, lyricism indicates a movement of weakening. Our analysis aims to return to the assessment – widely disseminated by critics – that Claro enigma does not represent harm or loss in relation to A rosa do povo, but introduces new aesthetic elements from which it is possible to draw philosophical consequences regarding the debate on literary engagement. Claro enigma does not represent a step backward in relation to the previous work, but a new type of engagement based on a humanized perspective, focused on the human condition and only indirectly linked to social and political phenomena.

Keywords:
Drummond; Merleau-Ponty; mythical time; engagement