A fortuna crítica da obra de Leila Danziger parece orbitar em torno do reconhecimento da existência de um trabalho do luto a partir de uma dupla tarefa que a poeta e artista contemporânea designou para a sua obra: nomear os mortos e oferecer um túmulo digno para as coisas que se perdem ou desaparecem. Por isso, e com razão, a ideia da melancolia foi prioritária na interpretação de seus poemas e de suas obras plásticas. O presente artigo propõe uma chave de leitura distinta, a partir da proposição de que é possível ver, ao lado do trabalho do luto, um trabalho do desejo na mesma dupla tarefa para a qual Danziger se prontificou. Parte-se da análise de uma mínima obra, Um Golem para Caruaru, escrita praticamente apenas com nomes de localizações geográficas e de povoados. Nela, os nomes próprios, recombinados, misturam teologia e história, e a hipótese que o artigo sustenta é a de que o trabalho do desejo nivela ontologicamente o plano do mundo e o do texto numa nova reunião redentora – e feliz – do que existe. À guisa de conclusão, o artigo tenta levantar a hipótese de que o trabalho de Leila Danziger pode ser lido não apenas em função da poesia contemporânea e da tradição judaica, como também em correlação com fenômenos culturais pernambucanos e agrários que concernem mas também ultrapassam a esfera literária.
The critique of Leila Danziger’s oeuvre seems to orbit around the recognition of the existence of a work of mourning stemming from a double task the poet and contemporary artist set her own work to: to name the dead and offer a proper tomb for the things that get lost or disappear. For that reason, and rightly so, the idea of melancholia has been primary in the interpretation of her poems and visual artwork. This article offers a different way of reading that oeuvre, starting from the proposition that it is possible to see, parallel to the work of mourning, a work of desire in that same double task Danziger stepped up to. The article begins by the analysis of a minimal work, Um Golem para Caruaru, written practically only with names of geographical locations and villages. In it the proper names, recombined, mix teology and history, and the hypothesis this article sustains is that the work of desire ontologically levels the plain of the world and the plain of the text in a new redeeming – and joyfull – reunion of what exists. In conclusion, this article tries to raise the hypothesis that the work of Leila Danziger can be read not only according to contemporary poetry and Jewish tradition, but also in correlation to cultural and agrarian phenomena from Pernambuco, which concern but surpass the literary sphere.