Proponho, neste artigo, uma aproximação entre Vilém Flusser e Donna Haraway acerca da constatação de que vivemos em uma sociedade tecnológica totalitária, na qual as distinções tradicionais entre orgânico e artificial, natureza e cultura, humano e maquínico são progressivamente desintegradas. Nesse contexto, a separação teórica entre arte, tecnologia e ciência também perde o sentido, uma vez que na prática essas áreas estão cada vez mais amalgamadas. A arte, entendida como criação de novos modelos, significados e narrativas, como fabulação na qual ficção e realidade, imaginação e técnica mostram-se indissociáveis, é apontada por ambos os autores como um caminho para contornar ou transformar os aspectos dominadores e opressivos da nossa tecnocultura.
In this paper, I propose a proximity between Vilém Flusser and Donna Haraway on the idea that we live in a totalitarian technological society, in which the traditional western distinctions between organic and artificial, nature and culture, human and machines, are progressively disintegrated. In this context, the theoretical separation between art, technology and science also loses its meaning, since in practice these areas are increasingly amalgamated. Art, understood as the ability to create new models, meanings and narratives, a field in which fiction and reality, imagination and technique are indissociable, is pointed by both authors as a way to transform the dominating and oppressive aspects of our technoculture.