Durante longo tempo, segundo uma antiga conceptualidade filosófica, a imagem foi associada ao reflexo, à cópia, à multiplicação gratuita dos seres ou ao simulacro da presença efetiva. No presente ensaio, contra essa tradição de desqualificação, tentamos mostrar que é possível pensar a imagem não como um simples reflexo, mas como uma verdadeira potência de reflexão. A partir de uma análise recente de Jacques Rancière, que categoriza uma “pensatividade” em relação a algumas imagens particulares da arte, tentamos mostrar que essa pensatividade é extensível de um modo mais geral ao regime estético do pensamento da imagem, desde sua origem kantiana. As considerações de Deleuze sobre os signos-hieróglifos proustianos ou as meditações de Rilke diante das superfícies da estatuária de Rodin mostram o que está mais profundamente em jogo nesse deslocamento estético do estatuto da imagem: a possibilidade de uma vida não idêntica no sensível.
For a long time, according to an old philosophical conceptuality, image was associated with reflection, copying, gratuitous multiplication of beings or simulacrum of effective presence. In this essay, against this tradition of disqualification, we try to show that it is possible to think about the image not as a mere reflection, but as a real power of reflection. Starting from a recent analysis by Jacques Rancière, which categorizes a "pensativity" in relation to some particular images of art, we try to show that this pensactivity extends more generally to the aesthetic regime of image thinking, since its Kantian origin. Deleuze's considerations on Proustian hieroglyphic signs or Rilke's meditations on the surfaces of Rodin's statuary show what is most at stake in this aesthetic shift in the status of the image: the possibility of a non-identical life in the sensible.